segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

no horizonte azul
tudo que há de mais bonito
vem riscado de branco
e que graça teria
se não fosse assim?


sexta-feira, 10 de setembro de 2010

eu



se eu fosse menos eu
sendo eu quem eu menos conheço
estaria eu, enfim, mais perto de mim?

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

fisiologia do retorno

dos poros que se abrem
ou das feridas velhas
incuráveis
propagadas
abertas novamente
escorre vida
combustível
vitalidade:
o sangue,
que retorna por vênulas
ao caos que se firma
e espirra por artérias
manchando o presente
com a cor suja
mas viva
do passado

quarta-feira, 21 de julho de 2010

um pé vai lá e outro cá

é preciso calcular
listar metodicamente
os erros e os fracassos
que não podem se repetir
é preciso anotar
carimbar
colar na parede do quarto
pensar
raciocinar
pensa
nele
que vem descendo a esquina
que te afaga
tato forte
voz grave
fala pausada
que te ama e te devora
que te invade
atropela
suspira
geme alto

terça-feira, 13 de julho de 2010

viagem ao desencontro

empreitada dura
passos curtos
rosto amassado
olhos marejados
sequidão e palidez
andar à esmo
buscar obstinado
um lugar que seja seu
fim da linha: a própria sombra
acorda
caminha até o espelho
rachaduras
manchas
cacos
no próprio rosto.

terça-feira, 29 de junho de 2010

quem sou eu nem eu sei

desconfiança de si
camuflar-se
esconder-se
ser outro
ser si
ser só
ser grande
mania de ser
que de tanto querer ser acaba sendo nada
de ser grande vira pequeno
e de ser outro vira si.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

lá e cá

lá me parece ser bem mais seguro que cá
lá é úmido cá é seco
lá é verde cá é pálido
lá há flores e cá há espinhos

atravesso


agora aqui
o verde também seca
as flores também murcham
e o solo também quebra

domingo, 6 de junho de 2010

sem título

ele passa dias à fio na espera de algo novo. a luz do sol vai se ofuscando, dá espaço ao mistério de cada noite. e ele a espreitar cada movimento de luz, de sombra, cada barulho de folha seca na ignomínia esperança de estar sendo perseguido.
encara o espelho: as imperfeições sempre fazem questão de se exporem mais que as qualidades. e fica à mercê de si, portanto inseguro se olhando nos olhos sem que consiga ver qualquer coisa além da cor marrom da íris. não consegue penetrar no próprio olhar.
mexe o corpo vertiginoso hora sem consciência e hora em súbita sã consciência pra lembrá-lo de suas ações. ignora.
quando se entrega ao infável, ao impossível e ao incerto toma goles longos de felicidade efêmera.

terça-feira, 27 de abril de 2010

''no meio do caminho tinha uma pedra''

acordou meio cansado hoje
caiu
da
cama
olhou no espelho e viu a perfeita sincronia dos gestos
não reconheceu
caiu
em
si
a luz do sol brilhava intensa
cegou seus olhos
caminhou ereto, austero, pretensioso
caiu
no
chão.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

seco no molhado

sabe o que faz
recolhe-se no obscuro
desconhecido
não se deixa escapar
resigna-se
sabe o que faz
execra
insulta
ergue a parede
suja
marcada

pintura fresca
cimentada
bloqueada
não sabe o que faz
ambiciona, procura, deseja, espera
não encontra
não sabe o que faz
mas vive a dizer que sabe.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

(sem título)

sabe sorrir de um jeito meio torto
sabe fingir que nao vê quando os próprios olhos o devoram
sabe morrer por dentro e continuar vivo por fora
sabe chorar sozinho no banheiro e enxugar as lágrimas logo depois
sabe gritar com o travesseiro contra o rosto
pensa que sabe viver
vive caindo
mas sabe levantar